quinta-feira, 23 de junho de 2011


Bolinha
Por Amauri Rodrigues, ENA/57.

As imagens das fotos anexadas oferecem aqueles “ares“ de tristeza, é certo. Justificadas tristezas, entretanto, bem raras. Este que escreve jamais se associou aos grupos tipo baixo astral. Pelo contrário, sempre se manteve junto aos colegas do bem viver, aproveitando, ao máximo, os momentos fugazes da juventude que esvaia no correr dos tempos. Assim, sempre com espírito de otimismo e esperança de dias melhores, a cruel rotina das aulas teóricas e as infindáveis noites nos fétidos laboratórios, cuidávamos de intercalar momentos de lazer nas farras adequadas, Eram as estrondosas e memoráveis comemorações sob qualquer pretexto. Muitas vezes sem qualquer razão aparente ou justificável lá íamos para o bar da estrada tomar cerveja e conversar, simplesmente. Algumas vezes nos socorríamos do Bar do Pinta Cega onde tínhamos crédito para as cervejas ou, para levar para o alojamento, pelo menos, uma preciosa garrafa de cachaça das variadas marcas e procedências. Mas o forte mesmo; era o bar da estrada, aquele explorado pela Cooperativa dos Funcionários da Universidade Rural Ltda, às margens da antiga estrada Rio–São Paulo. O saudoso bar da estrada!


NOTA: anexa a única foto do BOLINHA tomada em junho de 1957 por Luiz Carlos Sayão Ferreira Lima/ENA-57.


A história continua em COMENTÁRIOS , neste tópico.

12 comentários:

  1. Nossa!!!Que texto lindo!!!Gostei muito!!!Viajei pela estrada e apesar de ter passado pela mesma estrada mais de 10 anos depois, senti a presença do Bolinha nas minhas recordações,dos tempos de estrada também...Muito boa a tua iniciativa Suely...Muito bom recordar....

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  2. Obrigada, Conceição, apareça sempre.

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  3. CONTINUAÇÃO DO TEXTO DO AMAURI RODRIGUES - ENA 57
    BOLINHA. (1)
    Os grupos de alunos frequentadores do bar da estrada tinham as características mais diversas. Todos alegres claro, uns brigalhões, uns barulhentos de chamar atenção, outros enrustidos nas preferências por notas cada vez mais distanciadas dos estudantes malandros, essas coisas de estudante metido a besta. Mas aqueles cus-de-ferro eram poucos, graças a Deus. Mas o meu grupo era diferente por uma única razão: tínhamos um cão que sempre nos acompanhava. Coisa misteriosa o procedimento do cachorro a nos acompanhar assim que saíamos do alojamento indo pelo atalho de arenado em direção ao bar da estrada. Nas incontáveis noites, nos meses e anos de boas farras no bar da estrada lá ia, também, o nosso fiel companheiro aquele cãozinho querido, de idade que nunca se soube. Muito gordo, assim de uma obesidade mórbida, com suas curtas pernas desproporcionais nos seguia, quase se arrastando, para poder acompanhar, por quê? Os apressados e sedentos seres humanos ávidos para quê? Por qual razão o gorducho cão nos seguia sem nem ser convidado?

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  4. (2)
    Ele deveria ter suas razões. Quais seriam as motivações? Seriam as lasquinhas de carne que, vez por outra, eram jogadas para o baixo e obeso cãozinho? Pode ser. Ou ele estava no encontro do seu Destino? Os entendidos até afirmavam que o BOLINHA, esse o nome do cachorro, era um legítimo vira-lata; sem raça aparente. Mas o quê! Justiça seja feita, o BOLINHA era, sobremaneira, um autêntico cão raçudo. Aguentar com aquele típico estoicismo canino a nossa turma de bebuns da tórrida Baixada Fluminense, não era para qualquer cão! Acho que era para amenizar os calorentos dias no Km 47 que o BOLINHA se dispunha a nos acompanhar, às vezes, até o aconchegante anfiteatro do Prédio 1, local mais fresco, para nos esperar escanchado à nossa frente enquanto ouvíamos, com enfado, as aulas, sejam de Mecânica Racional ou Cálculo Integral. Coitado do BOLINHA! Durante as maçantes proposições teóricas, nos humanos, valíamos de imediatas compensações etílicas imaginado o bar da estrada. E ele, BOLINHA, teria capacidade de imaginar? Mas desejar o quê? Nosso carinho ou as míseras lasquinhas de carne no bar da estrada? Sabe-se lá!

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  5. 3)
    Entristeço-me (veja a foto) quando recordo daquele fim do BOLINHA. O prestimoso BOLINHA dos nossos instantes mágicos do bar da estrada. Aquele vai-e-vem de tantos anos. Ah! Agora me recordo: algum colega mais bebum que outro e de bom coração, se dispunha, por exuberante manifestação de caridade solidária, a soerguer do solo arenoso, o pesado corpo do BOLINHA para levar aquele amigão de quatro patas calejadas na volta até o alojamento. Acho que o BOLINHA deveria achar aquilo esquisito, mas ia de bom grado nos braços do colega, apenas olhando para nós que voltávamos costumeiramente cantando com alegria perturbadora na noite que se fazia adiantada. Cão discreto era o BOLINHA! Mesmo diante daquela esquisitice de ser levado nos braços pela noite, se mantinha “calado”, assim sem ao menos uma rosnadura que fosse de protesto ou gratidão. Nunca se ouviu a “voz” do BOLINHA!

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  6. 4)
    Nós não sabíamos nada do futuro! Para os seres humanos o Destino é uma incógnita. É certo que vivíamos de esperança; nos sustentávamos na crença do objetivo escolhido Ora! Éramos racionais. E o BOLINHA coitado; um irracional em que estaria ancorado? Teria crenças? Tenho certeza que alguma espécie de emoção, sim. Caso contrário, por que preferia e acompanhar unicamente – e sempre –, o grupo mais feliz daqueles anos 50?
    Certo colega em momentos de caminhadas pelas areias até o bar da estrada, em uma tirada filosófica antes de entrar na cerveja, questionou olhando para o BOLINHA: “Esse é que é feliz! Não pensa no futuro. E nós, onde estaremos daqui a um ano!”. Tinha mesmo razão o filósofo da turma. Os seres irracionais não têm essas neuras; as paúras do que lhes vem pela frente ou que lhes possa aprontar o Destino.
    Certa manhã, de agosto de 1957, quando já saímos para o café da manhã, não constatamos o BOLINHA a nos esperar na porta do alojamento. Era um costume típico daquele amigo, ficar ali na porta a nos abanar a cauda para começar o dia. Cadê o nosso amigo?

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  7. 5)
    Foi naquele momento que um servente nos informou que tinha um cão atropelado e morto na estrada lá por perto do bar onde tínhamos “tomado todas” até tarde. Só naquele instante nos demos conta que tínhamos esquecido no restaurante o grande amigo das noites. Foi mesmo uma ingratidão nossa. Fomos verificar se era verdade. Sim, o BOLINHA estava abandonado à margem da estrada Rio-São Paulo, imóvel com os olhos já sem aquele brilho sincero e amigo que nos fascinava. As moscas no calor da manhã já zuniam ao redor da boca do animal em busca das gotas de sangue! Nos sentimos miseráveis pelo esquecimento do BOLINHA ao seu Destino na noite escura. Abandonamos o nosso amigo como se ele fosse um cão sem dono! O Destino foi terrível para com ele ou estava sendo mais para nós?
    Levamos o corpo do BOLINHA sem vida até o P1. Local que ele tanto frequentou aos nossos pés no anfiteatro dos dias calorentos das aulas. Ali ele seria sepultado. Ouve protesto da Administração da UR. Então resolvemos encenar um “velório de corpo presente” lá mesmo nos arredores dos alojamentos. Também ouve protestos pela homenagem cristã despropositada, mas resistimos. O BOLINHA foi visitado por centenas de amigos. O caixão foi improvisado em uma caixa de madeira vazia das latas de leite condensado. Os bons observadores até viram na cara séria do BOLINHA morto um “quê” de dignidade canina que sempre lhe foi especial.

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  8. 6)
    Depois sepultamos o BOLINHA ali por perto do alojamento nº 1, bem junto às janelas do Arário na ilusão que sua “alma” pudesse ouvir os batuques e cantorias madrugais mesmo sem aquele entusiasmo e alegria da companhia do maior amigo do homem.
    Tinha chegado o dezembro de 1957 e urgia pensar no futuro. Íamos terminar o curso e partir para o nosso Destino. Íamos sair da Universidade, mas nunca esqueceríamos o nosso amigo de tantas alegrias. Só o grande Senhor do Universo saberá por onde anda o BOLINHA de Sua criação; feito tão bom e amigo dos seres humanos, às vezes, tão ingratos.

    NOTA: anexa a única foto do BOLINHA tomada em junho de 1957 por Luiz Carlos Sayão Ferreira Lima/ENA-57.

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  9. Turma dos anos dourados da Rural 1957

    Disse o Ferreira Lima
    Tenho boas recordações das nossas disputas entre o AP. 207 (Arário) e o nosso 307 - Claus, Chioso, Eu, Doret, Coutinho (durante pouco tempo) e Se há alguém que não poderia esquecer o episódio da seleção da foto que seria colocada no nosso Livro de Formatura esse alguém sou eu mesmo.
    Além da foto de Beca (tirada por fotógrafo contratado) a Turma achou que deveria ser colocada uma foto que exprimisse a possível futura atividade (vocação) do formando. Para essas fotos vocacionais eu fui o autor delas e, realmente, a sua foi muito criticada por alguns (não foi o meu caso) Achei uma tremenda gozação e a foto foi tirada e editada como você queria.
    Tenho boas recordações das nossas disputas entre o AP. 207 (Arário) e o nosso 307 - Claus, Chioso, Eu, Doret, Coutinho (durante pouco tempo) e Carlos Roberto Meyer.
    Grande abraço a todos

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  10. Disse Amaury Rodrigues
    Eu, pobre morador do 207, sofri, por quase quatro anos o tormento com a bagunça dos colegas do Ap.307 logo acima. Nunca dei troco desmedido ou desproporcional; sempre na mesma medida. Uma noite provoquei o japa Chioso com uma vassoura suja de merda. Ele nunca me perdoou. Saudades! Por isso escrevo contos e livros de memórias. Abraços para todos do Amaurí.

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  11. Disse João Montojos:

    Mal e mal penso representar os comportados moradores do 307. Eramos: Romeu, Filpo e Fred de um lado. Do outro Blanco, Cássio e o locutor que vos fala.
    Não incomodávamos os que estavam em piso inferior ao nosso, mas fomos por muitas noitadas quase enlouquecidos pelas "brincadeiras" do Doret, que com um bambu batia nas lajes de cima e de baixo, docemente refestelado em sua cama.
    Confortavelmente postado ficava por longo tempo atazanando a nossa existência.
    Mas nunca perdemos as estribeiras e o indigitado até hoje é muito querido por este sobrevivente João Montojos

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  12. Disse Doret:
    Queridos, cá estou me deliciando com as recordações.
    Efusivos e abundantes abraços aos amigos
    Doret

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