60 ANOS DE FORMATURA
BAIXADA DE ITAGUAÍ
João Montojos
Era dezembro de 1957. Aquele dia 21,
tal como frequentemente ocorre na Baixada de Itaguaí, amanhecera encoberto e
muito abafado. A atmosfera densa tornava penoso o simples ato de respirar. Já
se podia imaginar que o termômetro atingiria nas primeiras horas da tarde as
raias dos 40º C, tal como ocorre frequentemente na Baixada de Itaguaí.
Logo cedo um grupo de jovens mal
disfarçava sua ansiedade ao se preparar para a batalha final da grande guerra
em que se transformara sua vida estudantil. Tomados por múltiplas emoções viam
desenrolar diante de seus olhos as cenas mais relevantes de sua curta
existência.
Instantes de grande alegria, de
profunda tristeza, de preocupações, de decepções e de esperanças misturavam-se
formando um mosaico indecifrável. Essa era a visão que resumia, naquela hora,
seus dias universitários.
A incerteza no futuro, por outro
lado, espicaçava seus espíritos ainda em formação, tal como ocorre
frequentemete com todos os moços quando de seu ingresso na vida profissional.
O grupo extremamente heterogêneo era
formado por indivíduos provenientes dos mais diversos rincões desse país e até
de fora dele. De condição sócio-econômica variada, de hábitos e costumes nem
sempre comuns, os componentes da Turma ENA 57 em tudo se assemelhavam aos
integrantes dos demais grupamentos estudantis da Rural.
Depois da cerimônia religiosa, da
estafante solenidade de colação de grau, do plantio da árvore que marcaria para
sempre a passagem da Turma pelo km 47 e do almoço festivo, chegara a hora
indesejada da despedida.
Com a voz embargada os formandos se
abraçavam fortemente e choravam o fim daquele convívio. Com poucas palavras e
muitos murmúrios desejavam-se mutuamente boa sorte na estrada que começava a
ser percorrida.
Cada qual ao iniciar-se na nova vida
levava a torcida e a confiança dos demais como arma poderosa na luta por sua
afirmação.
Expressões mais ou menos vazias
frequentemente pronunciadas em ocasiões semelhantes, tais como: "até a vista!”
ou “até qualquer dia!” não estiveram presentes nessa data.
Os jovens, que pareciam apenas novos
atores da velha peça teatral que vinha sendo encenada ano após ano no palco
árido de Seropédica, nesse momento mostraram-se inteiramente diferentes. Não se
conformaram em ver a sólida amizade construída, tijolo por tijolo, em anos de estreita convivência, se desfazer
no ar como se fora apenas fumaça.
A Turma prometeu manter-se unida e
cada qual sempre que possível haveria de comparecer às reuniões que
inevitavelmente seriam programadas.
E de forma inteiramente inédita e
diferente de tudo que se conhece, aquele grupo de amigos, hoje todos
septuagenários, continua a cultivar o salutar hábito de consolidar sentimentos
fraternais,
Movida ainda pelo clima vivido naquele
longinquo 21 de dezembro, quando a elevada temperatura ambiente não superou a
desenvolvida no interior de cada um dos componentes, a Turma ENA 57 vem se
renovando em encontros comoventes ao longo de quase meio século, tal como não
ocorreu jamais, nem mesmo na Baixada de Itaguaí.
Setembro 2005
Só muitas saudades. Coisa das mais misteriosas; a saudade é um doce perigoso. Tanto deleite acompanhada sempre dos sentimentos de fim nostálgico; lonjuras dos amigos, lugares fantásticos que são destruídos pelo "progresso". Então; que fazer? Só abusar do doce SAUDADE e depois aguentar as consequências...
ResponderExcluirQuanto mais distante no tempo mais perto no coração.
Excluir...mesmo sendo da turma de 70 da Engenharia Química , a foto aflora reminiscências que causam arrepios e algo mais....diria que é bom e perigoso.
ResponderExcluirO perigo é a nostalgia. Mas viajar no tempo nos faz sentir mergulhado no passado e traz de volta nossa doce juventude.
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